"Vale a pena ter um João em sua vida", conheça a história da hervalense que adotou um menino com diagnóstico de paralisia cerebral

João tinha dois anos quando Cristiane Bianchi o adotou e teve sua vida transformada.

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Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

O amor não pode ser entendido como um sentimento, mas sim como uma decisão. Quando você decide amar alguém, você passa a transbordar deste amor e usufruir dele na mesma medida em que se doa. A reportagem do Portal do Éder Luiz, hoje vai contar a história emocionante da moradora de Herval d´Oeste, Cristiane Bianchi, mãe de cinco filhos, três biológicos do primeiro casamento e dois adotivos. Uma história de muito sofrimento e batalhas, mas também de conquistas e vitórias. Através da adoção conheceu um amor diferente e teve sua vida transformada.

“Eu e meu marido Aquiles adotamos um menino chamado Gabriel, recém nascido. Quando Gabriel tinha 4 anos ele disse para a comissária que eu queria adotar também o João Lucas, um menino de quase dois anos bem debilitado, diagnosticado com paralisia cerebral severa e que estava no abrigo em Herval d´Oeste. Na época nós fazíamos trabalho voluntário no abrigo onde João estava. Fiquei surpresa, pois partiu do Gabriel essa iniciativa, então disse que falaria com meu marido”, conta.

João Lucas, nasceu gêmeo, contudo, o irmão faleceu aos três meses por desnutrição. A Justiça tirou João dos pais com desnutrição intensa, por isso, João estava muito debilitado. “Quando fomos conhecer ele, meu marido pegou ele no colo e sentiu que era nosso. A casa que morávamos era pequena, mas tínhamos para oferecer para o João nosso tempo e disposição. Nós não tínhamos dinheiro, mas queríamos dar para ele uma vida melhor. Então em 2008 adotamos ele também”.

O sorriso dele é a maior prova que Deus existe e as dificuldades passam. Foto: Arquivo Pessoal
O sorriso dele é a maior prova que Deus existe e as dificuldades passam. Foto: Arquivo Pessoal

Em busca de uma qualidade de vida melhor para seu filho e lutando contra muitos obstáculos em seu caminho, Cris abandonou tudo em 2011 e se mudou para Joinville para oferecer um tratamento melhor para seu filho. “Peguei ele com 4 anos e o Gabriel com 9 e fomos para Joinville. Passamos por muitas dificuldades, mas a comunidade nos abraçou e nos deu todo apoio. Conseguimos um lugar para morar, doação de móveis, alimentos, ganhamos fraldas para o João e assim fomos em busca do tratamento na Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD). Chegamos lá e já começamos o tratamento em ritmo intensivo, tudo que podíamos fazer fazíamos. Após três anos morando em Joinville o Aquiles mudou para lá também”.

Dia que João ganhou um dia de príncipe em Joinville. Foto: Arquivo Pessoal
Dia que João ganhou um dia de príncipe em Joinville. Foto: Arquivo Pessoal

“Maior dificuldade é enfrentar o preconceito”

“João não gosta de ser chamado de bebê ou de coitadinho, e é assim que a maioria das pessoas chama ele. Quando você vai pegar ônibus as pessoas te olham torto, porque precisam esperar até o elevador baixar e você conseguir entrar, ou as vezes o motorista não tem paciência, não quer te levar. Eu chorava muito nesta época, é muito difícil lidar com o preconceito das pessoas”.

Foto: Arquivo Pessoal
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Outra triste realidade é que uma criança com deficiência dificilmente é convidada para uma festa de aniversário infantil. “Há um preconceito muito grande, é uma questão de conscientização das pessoas que acham que a criança com deficiência não se importa com isso. Temos muito a ganhar convivendo com pessoas diferentes, isso é empatia, você se pôr no lugar do outro”.

Cris se dedicou tanto a João que de fato se colocou no lugar dele quando se propôs a encarar um desafio: três dias em uma cadeira de rodas! “O João me dizia você não sabe o que eu passo, então decidi viver isso e me desafiei a passar três dias de cadeiras de rodas. Eu acho que todos deveriam fazer isso. Foi muito frustrante, muitas dificuldades, nem a luz conseguia acender, mas foi uma experiência única e muito importante, precisamos nos colocar no lugar do próximo”.

Foto: Arquivo Pessoal
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João é um milagre

Foram nove anos de tratamento em Joinville onde João teve uma melhora expressiva. O diagnóstico indicava que João não iria falar, hoje ele fala, usava fraldas, atualmente não usa mais, não se alimentava, agora come sozinho. Foram vários anos insistindo para que pequenas coisas melhorassem.

“Dúvidas e incertezas passam na cabeça de todos, mas jamais me arrependi de ter adotado o João. Passamos pela cobrança da família e a aceitação. Muitas vezes nos perguntam, mas depois de todo esse tempo de tratamento e ele não caminha? Existem coisas mais importantes do que caminhar, o que eu posso fazer é aceitar ele como ele é e assim melhorar a qualidade de vida dele, que é o que sempre busquei. O João é um milagre, anjos existem sim”.

Foto: Arquivo Pessoal
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Adoção: um ato de amor

Atualmente o número de pais na fila de adoção é muito maior do que o número de crianças aptas para serem adotadas, contudo, muitas vezes essas crianças não atendem ao perfil desejado pelos pais.

“Eu percebo que os pais se fecham no mundo da criança perfeita, e essa criança não existe. Os abrigos estão cheios de crianças que precisam de um lar, muitas vezes o seu filho já nasceu, por isso meu conselho é que as pessoas olhem com carinho todas as crianças. Que as pessoas se abram para a adoção, não é um mundo cor de rosa, mas vale a pena, você vai abrir mão de muitas coisas, mas vai ganhar muito mais através do amor".

"Vale a pena ter um João. A adoção é uma forma muito bonita de amar e se doar em todos os sentidos, independente se ela é mais velha, mais nova, com algum problema, que você sinta que não é só a criança que precisa de você, mas você precisa daquela criança na sua vida”.

Foto: Arquivo Pessoal
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Mais uma grande batalha: Aquiles descobre câncer

Aquiles começou a ter muita dor no corpo e foi diagnosticado com dermatopolimiosite uma doença no músculo, após muitos exames foi então descoberto um câncer em 2019. “Foi uma fase muito difícil. Ele estava encostado devido às suas dores e foi quando ganhou alta do INSS e a empresa o demitiu que o câncer foi descoberto. Aquiles fez o tratamento durante um ano com quimioterapia e radioterapia. Eu precisei me dividir entre ele e o João. Foi muito complicado, minha cunhada foi fundamental para me ajudar a cuidar do João nesta época”.

Em 2020 a família voltou para Herval d´Oeste, porque Aquiles queria deixar a família bem, sem ter que pagar aluguel. Depois de três meses novos exames mostraram que o câncer havia se espalhado e ele foi enfraquecendo. “Ele só ficava no quarto, não queria ficar sozinho. O médico achou melhor internar ele, era uma quinta-feira, mas ele não aguentou e na sexta faleceu. Eu estava do lado dele até o último suspiro”, conta emocionada.

“No dia que o pai morreu eu estava dormindo no quarto com minha tia. Eu percebi que alguma coisa tinha acontecido, a mãe não queria falar, ela chorava e eu já imaginava. Eu perguntei mãe o que deu com o pai? Quando ela disse que ele havia falecido eu não sabia o que fazer, pois receber uma notícia assim é muito difícil. (Choro). No velório eu estava muito emocionado, não queriam que eu fosse, mas eu quis ir, meu padrinho me segurou no colo e eu pensava que não queria chorar porque eu vi tudo que ele sofreu”, conta João muito emocionado.

Foto: Arquivo Pessoal
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O recomeço

Fazem apenas seis meses que Aquiles faleceu e Cris está reaprendendo a viver todos os dias em meio as dificuldades encontradas no caminho. “João precisa continuar estudando e fazendo tratamento, porque é para o resto da vida, se pararmos colocamos a perder o que já conquistamos até agora. Então por mais difícil que seja não podemos parar, temos que seguir”.

A família está morando em Herval d´Oeste e Cris precisa de ajuda da comunidade para continuar, pois não está recebendo benefício do marido e apenas Gabriel está trabalhando. “Eu não posso deixar o João sozinho, por isso não consigo trabalhar, as vezes uma faxina e outra estou conciliando, mas não tem sido fácil. Tem toda a parte burocrática e toda ajuda da comunidade é bem-vinda neste momento. Logo teremos que comprar outra cadeira de rodas para o João, precisamos trocar a tala, enfim o que a comunidade puder auxiliar será de grande valia”.

Cris não se considera uma mulher forte, mas determinada. Mesmo passando por tantos obstáculos, junto com seus filhos está buscando forças para continuar. “Estamos fazendo acompanhamento psicológico neste momento, pois entendo que sou de carne e osso e me permito chorar. Estamos reaprendendo neste momento, mas estamos unidos e vamos prosseguir. Sonho em dar uma qualidade de vida ainda melhor para o João e vou batalhar sempre por isso”, finaliza.

Quer ajudar de alguma forma? Entre em contato: (47) 9 9966-8576 e fale com Cris. Ou segue conta para depósito:

Caixa Econômica Federal

Agência - 3833

Conta Poupança: 000909731668-0

Cleoni Cristiane Bianchi 


Foto: Arquivo Pessoal
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Fonte:

Eliete Squerzzato Bechi - Portal Éder Luiz

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