MAB invade canteiro de obras de usina em Abdon Batista
Por volta das 5 horas desta segunda-feira (06), duas invasões mudaram a rotina na Serra Catarinense.
Por volta das 5 horas desta segunda-feira (06), duas invasões mudaram a rotina na Serra Catarinense. Aproximadamente 400 pessoas do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), ocuparam dois pontos do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Gabibaldi, a dois quilômetro do Centro de Abdon Batista (cerca de 100 quilômetros de Lages). Na mesma ação, pelo menos 300 pessoas do Movimento dos Sem Terra (MST), invadiram uma fazenda com 160 alqueres de terras, na localidade Umbu, em Cerro Negro (perto da localidade Araçá). O comando do movimento informou que só deixarão o local quando tiveram a garantia de atendimento da pauta de reivindicações com ao menos 50 itens.
Até o início da noite de ontem, as invasões não tiveram qualquer resistência. Cerca de 30 policiais fortemente armados e municiados com bombas de gás lacrimogêneo foram deslocados de Lages e uniram-se a outros grupos de policiais em Abdon Batista. Mas não receberam nenhuma ordem de retirada dos invasores, nem foram acionados para conter distúrbios. No canteiro de obras da usina, mais de cem caminhões e máquinas pesadas estão parados. Os invasores fecharam com madeiras, os dois acessos ao local, onde existe também grande quantidade de combustível e material inflamável. Em poucas horas dezenas de barracas e lonas foram montadas e equipes de “guaritas” se instalaram aos arredores do canteiro. “Somos agricultores e estamos sendo atingidos pelo empreendimento e nosso movimento é pacífico”, disse Denilson Ribeiro. Ele foi taxativo ao afirmar que só deixarão o canteiro de obras com uma negociação aberta e justa a todas as famílias atingidas. “Os atingidos no local do canteiro de obras tiveram indenizações com valores bem generosos. Aos demais, querem explorar e pagar miséria. Não aceitamos”, avisa o líder do movimento. Entre os invasores estão pessoas de Cerro Negro, Abdon Batista, São José do Cerrito, Campo Belo do Sul e Vargem. O acampamento é permanente e a negociação, a partir de agora, terá de ser pessoal. A orientação do MAB é, inclusive, para que as famílias não permitam mais que as equipes de topografia realizem levantamentos nas propriedades. Querem a interdição da obra, até que se estabeleça um canal direto de negociação. Os mais de 400 operários da Rio Canoas Energia, empreendedora responsável pela Usina Hidrelétrica Garibaldi cruzaram os braços nesta segunda-feira (6). Foram impedidos de entrar no canteiro de obras. A assessoria de imprensa do empreendedor informou que a área invadida no canteiro de obras já foi paga e uma reunião de emergência aconteceu no final da tarde. “Fomos tomados de surpresa. Ninguém do MAB nos procurou. Os empreendedores estão avaliando o que fazer sobre a invasão. A princípio querem propor uma saída pacífica dos invasores e um canal de negociação sem prejuízos às partes”, disse por telefone uma das assessoras da Triunfo Participações, empresa constituída para implantar e administrar a usina. As obras do canteiro ainda estão em andamento e as indenizações dos atingidos pelo lago estão previstas para iniciar em outubro, depois que terminar o levantamento topográfico nas propriedades. Os escritórios da Triunfo e da empreiteira ETS, que executa as obras, estão fechados em Abdon Batista. Hoje, deve ser divulgada uma nota oficial dos empreendedores. Enquanto centenas de integrantes do MAB tomavam o canteiro de obras da usina Garibaldi, outras centenas de pessoas ocuparam uma fazenda na localidade de Umbi, em Cerro Negro. A ação foi conjunta entre MAB e MST. A fazenda ocupada possui área de 160 alqueires e o nome do proprietário não foi informado. São ao menos 350 pessoas e já levantaram acampamento. O dono da fazenda reside numa outra área e no local há cerca de cem cabeças de gado. Os ocupantes querem reivindicar a posse da fazenda para reassentar famílias que dizem ser atingidas. Eles querem que o governo desaproprie a área e promova reforma agrária. João Orli Melo da Silva, membro do MAB em Esmeralda (RS), está no movimento como colaborador. E disse que é reassentado da usina Barra Grande e quer apoiar os colegas na causa na usina Garibaldi e da invasão à fazenda em Cerro Negro. O dono da fazenda deve pedir na Justiça a reintegração de posse de sua área.