O desabafo de Mamão

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Em entrevista concedida ao jornalista Clemir Schmitt, o Prefeito de Joaçaba, Rafael Laske, fez uma série de desabafos e contou bastidores de sua administração. A entrevista foi dada ao Jornal Folha da Manhã e o ederluiz.com reproduz na íntegra.

Laske avalia gestão e revela bastidores de seu governo Por Clemir Schmitt Depois de uma hora e quarenta e cinco minutos de entrevista, ficou mais fácil entender os “porquês” de muitos acontecimentos polêmicos que se desenrolaram nestes dois primeiros anos da administração municipal de Joaçaba. Sem rodeios e sem restrição a perguntas, o prefeito Rafael Laske (DEM) recebeu o Jornal Folha da Manhã na casa onde mora, na Rua Almirante Barroso, na manhã de sexta-feira (10) para uma conversa franca e direta. Questões como o relacionamento com o presidente do DEM, Marcos Zanardo e seu papel na administração, as CPIs instaladas na Câmara de Vereadores, o desembarque do PV e os boatos de supostos problemas do prefeito com alcoolismo, dentre outras, foram respondidas com naturalidade pelo mandatário de uma das cidades mais importantes do Oeste. Aos 35 anos de idade, Rafael Laske demonstra tranqüilidade no comando da Prefeitura de Joaçaba, embora reconheça que a falta de experiência em gestão pública tenha lhe causado problemas, principalmente durante o primeiro ano de mandato, período em que ele afirma que Marcos Zanardo, como secretário de administração, mandava mais que o prefeito e mantinha na prefeitura posturas e pessoas que colocavam interesses particulares acima dos interesses coletivos. Quem manda na prefeitura? O prefeito garante que é ele, mas nem sempre teria sido assim. Segundo Laske, durante todo o primeiro ano de gestão muitas decisões foram tomadas sem o conhecimento dele. O então secretário de administração, Marcos Zanardo, que também é o presidente do DEM, era o homem forte da prefeitura e administrava setores, negociava contratos e tomava decisões. “A autonomia era tanta que eu nem conhecia os fornecedores da prefeitura”, revela. Questionado sobre como permitiu que o controle saísse de sua mão, o prefeito revela que no início de sua gestão o comando nunca esteve com ele. “Recebi uma lista do DEM com os nomes que eu deveria nomear para alguns cargos estratégicos; foi uma imposição, não tive como me posicionar e acabei tendo que aceitar uma equipe que não era a que eu queria”, diz. As nomeações teriam sido para os cargos de secretário de administração, assessoria jurídica, finanças, serviços urbanos e eventos. Os três primeiros setores são como o cérebro, coração e pulmão de uma administração pública. Num primeiro momento, Laske diz que até se sentiu cômodo com a situação porque acreditava que Zanardo e sua equipe poderiam dar um ritmo bom a administração municipal, principalmente porque estava ciente da sua falta de experiência em gestão pública, embora seja formado em administração e tenha cumprido anteriormente mandatos como vereador. No entanto, o resultado não teria sido exatamente o esperado. “Comecei a perceber que interesses particulares, principalmente na negociação de contratos, estavam sendo colocados acima dos interesses coletivos”, disse o prefeito citando como exemplo os polêmicos contratos da Blitz Móvel e da publicação de atos oficiais que originou pagamentos de aproximadamente R$ 40 mil por mês para um único jornal diário de circulação local. “Isso atendia a interesses dele (Zanardo), não da comunidade, não poderia concordar com isso. Só que quando resolvi por um basta na situação, eles se voltaram contra mim”, desabafa. O prefeito revela também que alguns contratos teriam sido negociados por Zanardo quando ele ainda era o prefeito em exercício, ou seja, antes de sua posse. “Ele quis continuar mandando, tal qual fazia quando tinha um mandato e, na prática, isto realmente acontecia. Ele mandava mais que eu”. O final deste capítulo aconteceu com a saída de Marcos Zanardo e de sua equipe em dezembro de 2009 motivada, segundo o prefeito, pela pressão popular que foi originada em razão da situação que se estabeleceu. “Ele pediu pra sair, a pressão era muito grande, mas mesmo assim quis indicar um sucessor que eu não aceitei. Numa análise franca, o Zanardo mais atrapalhou do que ajudou a administração municipal de Joaçaba”. Situação atual e mudanças Com as substituições ocorridas em dezembro do ano passado, Laske garante que conseguiu assumir o controle da administração pública, embora admita que há ainda algumas pessoas que não estão correspondendo as suas expectativas na prefeitura. Tanto é que ele sinaliza uma nova reforma administrativa para o início do ano que vem com a finalidade de substituir peças que não estão afinadas com o seu programa de governo. “Tem que montar o time, ou então sentar na arquibancada e olhar o jogo passar”, completa ele usando uma metáfora para reafirmar que haverá mudanças no comando de setores estratégicos, porém não adiantou quais os setores que serão atingidos pela reforma. A única mudança anunciada é a criação da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, que atuará como uma ligação entre o poder público e a classe empresarial. O prefeito entende que falta sintonia entre o seu governo e alguns setores da sociedade, o que poderá ser solucionado pela nova secretaria que, segundo ele, não vai originar gastos adicionais à administração. “Nossa secretária de saúde é funcionária de carreira e optou pelos vencimentos da sua função efetiva, o que nos dá fôlego para nomear um novo secretário sem aumentar custos”, explica. A infraestrutura é apontada pelo prefeito como o setor onde estão os maiores problemas. Neste quesito dá pra afirmar que ele tem razão, haja vista as reclamações que pipocam semanalmente em vários pontos da cidade . No entanto, Laske defende o secretário da pasta ao afirmar que a situação chegou a este ponto pela precariedade dos equipamentos herdados, aliada a dificuldades de investimento em novas máquinas em razão da situação financeira encontrada ano passado. “Pegamos contas vencidas há dois e até três meses, máquinas sucateadas, impossibilidade de contrair financiamento por causa daquele problema com a Cohab, mas estamos superando. O secretário está comprometido”, garante. O desembarque do PV Durante a semana o líder do Partido Verde (PV) na Câmara de Vereadores, André Dalsenter comunicou a imprensa a saída do partido da administração municipal a partir de 2011. “Não se trata de uma atitude impensada, muito menos precipitada. Ela foi, na verdade, sendo construída passo a passo pela falta de sincronia deste governo,” afirmou. O PV fez parte da coligação que elegeu Rafael Laske e está presente na administração. O líder verde disse que nestes dois anos de administração, as idéias, os projetos e os anseios do PV não foram considerados. “O PV nunca foi chamado para planejar a administração, para traçar metas. Não queremos participar com cargos. Queremos estar juntos para construir uma cidade melhor e infelizmente este objetivo nunca foi contemplado nesta administração”. O PV diz lamentar também o fato de não existir uma política publica específica ao meio ambiente, a principal bandeira do partido. O vereador Fabiano Piovezan, também do PV, disse que a administração não busca sincronia com as entidades e classes representativas. “Esperava como um das primeiras ações, a implantação de um conselho com os mais diversos segmentos representativos da sociedade. Este conselho teria muito a colaborar com a administração. Mas isso também não ocorreu”. Rafael Laske diz que recebeu com surpresa a notícia do desembarque do PV, não pelo fato do rompimento, mas pela forma com que foi feita a comunicação. “Fiquei sabendo pela imprensa, não recebi nenhum comunicado oficial do PV”. Segundo ele, o desembarque já era previsto, porque o PV nunca se comportou como um partido da situação na Câmara de Vereadores. “O André sempre foi independente e o Fabiano sempre foi oposição”, completa. Por este raciocínio, Laske acredita que pouca coisa deve mudar no relacionamento do executivo com o legislativo por causa do rompimento com o PV. O prefeito não concorda com a afirmação de que faltaram ações na área ambiental. Segundo ele, nestes dois primeiros anos houve uma ação forte na área do licenciamento ambiental e cita também o projeto que está sendo executado no Rio do Tigre, além do planejamento para a implantação do Centro de Triagem de Animais. “Eles precisam apontar mais claramente onde eu falhei com o PV”, provoca. Atualmente o PV ocupa os cargos de secretário de administração e diretoria de cultura e pelo menos um deles deve desembarcar com o partido. A diretoria de cultura deve ser desocupada no final do ano, já o secretário de administração, Ricardo Grando, deverá permanecer. “Vai depender da decisão do Ricardo, gostaria que ele ficasse e é bem provável que isto aconteça. Não descarto a possibilidade de ele deixar o PV e ingressar no PSDB”, revela Laske. Instalação de CPIs A Câmara de Vereadores instalou duas CPIs para investigar supostas irregularidades na atual administração. Uma deverá investigar a denúncia da presença de máquinas públicas num terreno de propriedade do Vice-prefeito, Joventino de Marco, a outra investiga supostas irregularidades na compra de combustíveis pela secretaria de infraestrutura. Sobre o assunto, Rafael Laske foi bem objetivo. “Não acredito que tenha ocorrido irregularidades, mas o legislativo está no papel dele. Se houve alguma falha, os responsáveis serão punidos, caso contrário deverá haver retratação, isto não abala a administração municipal”. Nos últimos dias uma onda de boatos se espalhou pela da cidade, dando conta de que o prefeito Rafael Laske teria sido submetido a um tratamento para curar o alcoolismo durante suas férias. Aliás, há muito circulam boatos sobre os hábitos do prefeito que seguidamente é visto em festas, local onde costuma consumir bebida alcoólica na companhia de amigos. Sem nenhum constrangimento, Laske respondeu a esta pergunta afirmando que leva uma vida normal, como qualquer pessoa da sua idade. Isto inclui participação em reuniões festivas e até a ingestão de bebidas alcoólicas em algumas delas, mas negou que tenha problemas de alcoolismo ou qualquer doença relacionada a dependência química. “Sou jovem, solteiro, gosto de reuniões sociais e sempre fui assim. Não vou mudar meu jeito só porque algumas pessoas querem, não sou irresponsável, sou o prefeito, mas também tenho direito a uma vida social. Não tenho nenhum problema com alcoolismo ou qualquer outro tipo de dependência química, bebo normalmente como toda pessoa da minha idade, este é o meu jeito de ser”. A origem dos boatos ele credita a pessoas mal intencionadas que querem rotular sua vida pessoal. “Já tentaram me rotular de desonesto, de infiel e outras inverdades, é um jogo baixo, mas não abalo com isto”, finaliza o assunto. Avaliação e projetos futuros Mesmo admitindo problemas de ordem administrativa e operacional que precisam ser sanados, Rafael Laske se diz contente com o andamento da administração municipal. Segundo ele, em 2010 foram investidos mais de R$ 8 milhões em obras e serviços e outros investimentos deverão ser realizados em 2011. Ele cita como exemplo projetos de urbanismo, a construção de um centro de eventos, melhorias no acesso Adolfo Zigueli, na Rua Antonio Nunes Varella, a conclusão da rodoviária, a construção do Senai, da cozinha industrial do Sesi e a confecção de um projeto que visa transformar a área onde hoje está localizado o estádio municipal e o Ginásio Silveirão num parque de lazer. “O ginásio está interditado e o estádio está obsoleto, temos a intenção de investir pesado naquela área para transformá-la num ponto referencial de Joaçaba e que seja utilizado pela comunidade”, anuncia. Sobre o futuro político, Laske diz que é cedo para qualquer plano ou avaliação. Segundo ele, é necessário implantar os projetos propostos para então se fazer uma avaliação da viabilidade de uma candidatura a reeleição. “2011 será crucial para a administração de Joaçaba, só gostaria que as pessoas me julgassem quando o mandato terminar, só então saberemos se deixei a desejar ou se cumpri com meus compromissos, até lá tem muito trabalho a ser feito”.

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