Polícia indicia dono de oficina e funcionário por morte de jovens em BMW em Santa Catarina

Causa da morte foi asfixia por monóxido de carbono que invadiu o carro a partir de alterações no escapamento do veículo.

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As vítimas morreram intoxicadas.
As vítimas morreram intoxicadas.

O inquérito policial sobre a morte em 1º de janeiro de quatro jovens em um carro BMW na rodoviária de Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, foi concluído nesta quarta-feira (31) com o indiciamento de duas pessoas ligadas a uma oficina mecânica de Aparecida de Goiânia (GO).

Com base em laudos da Polícia Científica que já tinham sido divulgados no mês passado, os investigadores apontaram que a causa da morte foi asfixia por monóxido de carbono que invadiu o carro a partir de alterações no escapamento do veículo.

O dono da oficina e o funcionário que prestou o serviço foram indiciados por quatro homicídios culposos. Os nomes dos indiciados e da oficina não foram divulgados pela Polícia Civil.

Morreram os jovens Gustavo Pereira Silveira Elias, 24, Tiago de Lima Ribeiro, 21, Nicolas Oliveira Kovaleski, 16, e Karla Aparecida dos Santos, 19. Todos eram de Minas Gerais.

As vítimas saíram com a BMW no dia 23 de dezembro de Paracatu (MG) e chegaram na madrugada do dia 25 em Florianópolis (SC), onde ficaram até o dia 31. No trajeto entre os estados, não teria ocorrido nenhum problema mecânico.

No dia 31, contudo, quando eles seguiram de Florianópolis para Balneário Camboriú, para o Réveillon na praia, testemunhas dizem que o motorista comentou que sentiu um engasgo no carro. Mas isso não impediu a continuidade da viagem.

Depois da virada do ano na praia, eles seguiram para a rodoviária com a BMW, para buscar a namorada do Gustavo. Por causa do congestionamento gerado no Réveillon, eles teriam levado cerca de duas horas no percurso, que tem só cerca de 2,5 quilômetros. Saíram à 1h20 da praia e chegaram às 3h15 na rodoviária.

Na rodoviária, eles chegaram já enjoados e relataram isso para a namorada do Gustavo. O grupo suspeitava de que o mal-estar tivesse relação com um cachorro-quente que comeram horas antes e resolveram descansar dentro do carro ao longo da madrugada.

Por volta das 7h, a namorada de Gustavo foi até o veículo e percebeu que eles não estavam respirando. Ela pediu auxílio às pessoas no local, e o Samu foi chamado. O serviço de urgência teria chegado dez minutos depois, mas as vítimas morreram no local.

Os investigadores afirmam que várias modificações foram feitas no veículo em diferentes locais, mas o problema foi identificado na alteração no escapamento feita em junho, em Goiás.

De acordo com o perito Luiz Gabriel Alves de Deus, alterações do tipo têm intuito de conferir maior apelo esportivo ao veículo, pois "resultam em maior torque, potência e ruídos mais elevados e mais graves do motor".

Em razão das alterações, o catalisador foi substituído por uma tubulação conhecida como downpipe, que se rompeu.

"Principal constatação visual do caso é a fratura do downpipe. Foi identificado no próprio local dos fatos uma abertura nesta peça. E, depois, no exame detalhado, a gente pôde perceber que não era simplesmente uma fissura ou rachadura. Houve o rompimento completo", disse o perito à imprensa, no mês passado.

O perito afirmou que o rompimento resultou em extravasamento de grande volume de gases de combustão, "na mesma condição que eles saem do motor, ou seja, com muitos poluentes, com muito teor de monóxido de carbono".

"Esses gases preenchem o cofre do motor, extravasam por baixo, pelas laterais e adjacências, e ele foi absorvido pelo ar-condicionado, criando uma atmosfera tóxica dentro do veículo", continuou Alves de Deus.

Segundo ele, uma situação assim é potencializada pelo veículo em repouso ou em velocidade baixíssima. "Veículo em movimento, andando normalmente, forma uma certa ventilação, tende a afastar os gases", afirmou ele.

Durante as perícias, foram feitas medições de teor de monóxido de carbono em pontos do carro. Próximo ao ponto de ruptura do downpipe, foi observado o valor de 1.000 ppm (partes por milhão).

"Para efeito de referência, colocando o medidor na ponteira de um escapamento de um veículo original, os valores são da ordem de 30 a 50 ppm", comparou o perito. Em uma medição externa, em um ponto acima do capô do carro, a concentração ficava entre 200 e 500 ppm.

Também no mês passado, a perita Bruna de Souza Boff disse que uma das vítimas estava com mais de 50% de saturação de monóxido de carbono. "Normalmente acima de 40% já causa a morte", acrescentou ela.

Fonte:

Folha de S. Paulo

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