Renascimento ou Viver é uma Dádiva

O produtor cultural Omar Dimbarre reflete sobre o acidente grave que sofreu no último dia 30 de outubro.

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Renascimento ou Viver é uma Dádiva

Viver é uma dádiva: nascer e, depois, crescer, descobrindo as tantas belezas que nos cercam; ter a oportunidade de vislumbrar as cores extasiantes que compõem o universo; contemplar um magnífico pôr do sol colorindo o horizonte em um final de tarde de outono; apreciar o desabrochar das flores em um jardim; ouvir os diversos instrumentos que harmoniosamente compõem uma bela melodia; admirar o canto dos pássaros anunciando mais um dia que está nascendo; ouvir, em silêncio, o barulho de uma cascata que se precipita do alto ao leito do rio; sentir a emoção de assistir a um filme entre amigos; caminhar de pés descalços pela relva; comer uma fruta colhida diretamente da sua árvore-mãe... Essas são apenas algumas das tantas maravilhas que podemos apreciar em nossas vidas. Seriam necessárias páginas e páginas de um livro para descrever apenas parte delas. 

Ter um olhar atento para contemplar toda a beleza que cerca o nosso mundo; audição para identificar todos os sons da natureza e das músicas geniais compostas por talentosos compositores; olfato para perceber os aromas exalados pelas flores, frutas e pelas comidas caseiras preparadas com afeto pela mãe para um festivo almoço de domingo; sabores que são identificados, degustados e apreciados pela bênção do paladar; e a possibilidade de sentir a face das pessoas amadas acariciada por nossas mãos é um presente. 

Na semana passada, fui vítima de um acidente brutal. Enquanto caminhava pela estrada da Barra Verde, no interior de Herval d'Oeste, por obra de uma fatalidade, fui atropelado. O motorista não teve culpa; quando percebeu, eu já estava em seu caminho, e houve pouco tempo para reagir. Após a colisão, ele me ofereceu toda a assistência, aguardando ao meu lado até a chegada do Corpo de Bombeiros, que avaliou meu estado e me levou ao Hospital Santa Terezinha. Outro motorista também parou para ajudar, mas não sei seu nome nem quem ele é, além de outras pessoas que se prontificaram a prestar assistência. 

Fui extremamente bem tratado por todos os funcionários do HUST e deixo meu agradecimento a todos, em especial às enfermeiras, que foram muito afetuosas comigo. Também agradeço ao pessoal do Corpo de Bombeiros, ao motorista envolvido no acidente e ao motorista que parou para ajudar, além das demais pessoas que passaram pela estrada naquele momento e ofereceram apoio. Sem isso, talvez eu não tivesse saído do local com vida. 

Também quero agradecer a todos os amigos que enviaram mensagens, boas energias, bons pensamentos e orações, e que, em seus íntimos, desejaram que eu conseguisse me recuperar. Essas manifestações de afeto foram extremamente importantes para que eu superasse esse momento tão difícil da minha vida. 

Minha família foi fundamental na minha recuperação, permanecendo ao meu lado e dando o suporte necessário para que eu desse a volta por cima. Obrigado por todo o carinho que tiveram comigo. 

Jamais imaginei que um dia aconteceria algo assim, nem mesmo nos piores pesadelos.

Sou imensamente grato por ter saído de uma experiência tão traumatizante sem nenhuma lesão grave. 

Agradeço a Deus, ao Universo, à Natureza, aos bons espíritos, à minha falecida mãe, ao meu falecido pai, aos amigos falecidos e a todos os tios, tias e ancestrais que, de algum lugar deste Universo, vieram em meu socorro, emanando boas energias e, com isso, auxiliaram na minha recuperação.

Ontem de madrugada, com dificuldades para pegar no sono devido às várias dores que percorrem meu corpo, levantei-me e resolvi fazer algumas pesquisas. Transcrevo alguns tópicos estarrecedores: 

"Estima-se que, no Brasil, entre 10 e 12 mil pessoas sofram lesões na medula espinhal a cada ano, de acordo com dados de organizações como a Associação Brasileira de Lesados Medulares (ABLM) e o Ministério da Saúde. Dentre esses casos, cerca de 30 a 40% resultam em tetraplegia. Acidentes de trânsito representam aproximadamente 60% das causas de lesão medular, incluindo colisões de veículos, quedas de motocicletas e atropelamentos. Embora não haja uma estatística específica sobre quantas pessoas ficam tetraplégicas exclusivamente devido a atropelamentos, esses números indicam que uma parcela significativa dos casos de tetraplegia está ligada ao trânsito em geral. 

Traumatismo cranioencefálico (TCE): Uma pancada na cabeça pode resultar em TCE, que pode ser leve, moderado ou grave. O TCE grave pode levar a lesões cerebrais permanentes, incluindo danos cognitivos, físicos e emocionais.

Hematoma subdural ou epidural: O impacto pode causar sangramentos dentro do crânio. Um hematoma subdural ocorre entre o cérebro e a meninge (membrana que o envolve), enquanto o hematoma epidural ocorre entre o crânio e a meninge. Esses sangramentos podem aumentar a pressão no cérebro, causando danos severos e, em casos graves, podendo ser fatal."

Lendo esses dados e sabendo que bati fortemente a cabeça, deixando uma grande mancha de sangue no asfalto, além de várias lesões em outros membros, incluindo uma fratura exposta no braço esquerdo, deslocamento dos ossos maxilares e mandibulares, escoriações nas pernas e hematoma na costela, concluo que estive muito próximo de fazer parte dessa estatística, que pode devastar não somente a vida do acidentado, mas também a de seus familiares e amigos. 

O dia 30 de outubro de 2024, além de ser o dia do acidente mais grave que sofri em toda a minha vida, é também o dia do meu renascimento. Graças, tive a dádiva de não saber como me sentiria se tivesse sido arrancado de mim tudo que amo: o prazer de poder olhar, sentir, falar, ouvir e degustar todas as coisas boas que este mundo maravilhoso nos oferece. 

Saio dessa experiência muito mais grato por todas as dádivas que me são oferecidas todos os dias, por todas as pessoas com quem me é permitido conviver e compartilhar tantos momentos fantásticos, e com um olhar muito mais complacente em relação a ações que, às vezes, despertam em mim ressentimentos.

Este episódio violento, que chegou até mim com o potencial de destruir toda a paixão que sinto pela vida, foi amenizado por forças que estão além da minha compreensão. Sua passagem em minha história fortalece ainda mais a certeza que tenho, de que viver e todas as coisas boas que nos cercam são dádivas, e que devemos usufruí-las da melhor forma possível. 

Vivam a vida. Amem. Contemplem. Sejam felizes e gratos a cada novo raiar do sol e a cada novo despontar da lua no céu. E cuidem-se. Acreditamos que nunca seremos vítimas de acidentes fatais ou capazes de destruir quem somos, mas eles podem acontecer a qualquer momento. Fiquem atentos! 

Finalizo este texto parafraseando o aventureiro brasileiro Gabriel Buchmann, falecido em 2009 no Monte Mulanje, no Malauí: “A felicidade, a beleza, a verdade, o amor estão por todas as partes. É só uma questão de reconhecer e optar por buscar a felicidade!”

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