O relógio Parado - Catedral Santa Terezinha e suas histórias

O relógio Parado - Catedral Santa Terezinha e suas histórias

, 160 visualizações
O relógio Parado - Catedral Santa Terezinha e suas histórias
O relógio Parado - Catedral Santa Terezinha e suas histórias

Gerações de joaçabenses se acostumaram a ouvir as badaladas do relógio da Catedral Santa Terezinha, mas há alguns anos este patrimônio histórico deixou de funcionar.

O problema até hoje não foi encontrado, técnicos da região e até do Rio Grande do Sul já estiveram em Joaçaba para tentar o conserto, mas as tentativas foram aos poucos diminuindo, já que o velho relógio trabalha corretamente por um tempo e depois começa a atrasar, em média dois minutos por hora. Uma lástima, já que ele está lá desde a construção da catedral, o que aconteceu por volta de 1949. Dom Mário Marquez, Bispo Diocesano, falou ao ederluiz.com que o fato do relógio estar parado o intrigou e também o pároco da catedral, Padre Paulo Ramos da Silva. Após buscar maiores informações, descobriu-se que o conserto, e principalmente a manutenção, necessitam de um alto valor financeiro. “Queremos ver o nosso relógio funcionando novamente, mas o custo é elevado para isso. Mas, não descartamos essa possibilidade”. “Eu Vou Subir...” Mas, para um bom repórter, não basta ver de longe, tem que ir mais fundo sempre, neste caso, mais alto mesmo. Resolvi subir os degraus da torre da catedral, que vão dar no local onde está o maquinário do relógio. Fui alertado de que não seria nada fácil, era preciso coragem, mas descobri que também era necessária muita fé para não desistir. Uma pequena estátua de Santo Antônio está colocada num espaço bem no começo da subida, talvez deixada por quem já fez o trajeto e sabe das dificuldades. A torre é dividida em alguns pavimentos, confesso que não contei quantos, pois no primeiro as pernas já começaram a tremer. Nada fácil, as escadas são íngremes e os degraus bem curtos, como se vê nas fotos. Mas, o pior é a falta de um corrimão. Resolvi que era melhor ir devagar e sem a vergonha de quase andar agachado, segurando na própria escada, paredes e o que oferecesse alguma segurança. Na subida, a cada lance, o melhor era parar e tomar fôlego. Ai veio o barato dessa “escalada”, a vista de boa parte da cidade. A imagem era linda demais, o céu azul de Joaçaba e o sol avistado sobre o bairro Flor da Serra, faziam a coragem voltar para subir o que restava. Outra coisa bacana foi ver os detalhes da construção, os tijolos usados na época, as estruturas das janelas sem vidros. Num dos pavimentos, não me pergunte qual, me deparei com outras relíquias, os sinos da catedral. São dois, que acionados manualmente avisam a comunidade sobre os horários das missas entre outros assuntos. Parei e contemplei aquelas peças, lembrei que foram eles que anunciaram a morte do nosso Frei Bruno, santo para muitos. Quanta história. Olhei pelas enormes janelas e lá estava o monumento Frei Bruno, mais uma das vistas de quase tirar o fôlego que me restava. Nesse ritmo, tremendo, suando e com a adrenalina aumentada em muito a cada lance das escadas, cheguei ao coração do relógio. Lá estavam as máquinas, que por ironia, foram vencidas pelo tempo de uso e o desgaste dos dias. Cheguei a conclusão de que se o cristão não for bem valente, desiste mesmo de subir pra tentar consertar o relógio, por que se cada vez que der um problema for preciso fazer o trajeto já basta para desencorajar. É possível ver nas máquinas a inscrição do fabricante do relógio “José Michelini e Filho”, de São Paulo. Esse dado me levou a uma descoberta, a Relógios Michelini produziu mais de 1200 relógios que estão espalhados por todo o Brasil e alguns países da América Latina. Entre os mais conhecidos está o da Estação da Luz no centro da cidade de São Paulo. José Michelini, ao chegar ao Brasil, vindo da Itália, abriu a empresa em 1909, que fabricava relógios para torres de Igrejas e fachadas de comércio. Mais história para nossa torre da catedral. Ainda restava mais um desafio para chegar a parte visível do relógio e seus ponteiros, mas esse eu não venci. Não por falta de vontade, mas por que o acesso é mais difícil ainda. Duas escadinhas móveis, num espaço bem apertado, impossibilitaram o restante da aventura, mas já havia valido muito. No geral, o objetivo de ver o relógio de perto e mostrar pra vocês foi alcançado, mas o que encontrei superou em muito apenas essa vontade. A torre da catedral reúne tantas histórias, que por ai só renderia um livro, seus personagens estão ainda espalhados pela cidade e com certeza ávidos por contar tudo. Quem sabe em uma outra matéria? Bom, faltava a descida, mas isso não vou narrar. Basta dizer que foi como a subida. Cheguei bem e feliz por tudo o que vi e vivi numa tarde de outono em Joacaba. Quanto ao relógio, é um patrimônio da cidade que deve sim ser restaurado e marcar o compasso de nossas vidas com suas baladas.  

Notícias relacionadas